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Capítulo 6

Corticoides e endocrinologia na distrofia muscular de Duchenne

QUAL É O EFEITO DOS CORTICOIDES NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE E QUANDO É RECOMENDADO O SEU USO?

D. Natera de Benito

Existem evidências científicas que apoiam o tratamento crónico da DMD com corticoides. A curto prazo, a corticoterapia aumenta a força muscular dos doentes e, mais importante ainda, a longo prazo, retarda a perda da ambulação e previne o aparecimento da escoliose1. Nos doentes que perderam a marcha, demonstraram ser benéficos na manutenção da função respiratória e cardíaca2. Embora haja uma indicação clara de tratar os doentes com DMD com corticoides, não existe um consenso claro em relação à idade em que devam ser prescritos3. Na prática clínica, a idade de início do tratamento varia, principalmente por causa de dúvidas sobre os efeitos adversos que os corticosteroides podem ter em idades precoces. As diretrizes clínicas recomendam iniciar o tratamento com corticoides quando a criança tem entre quatro e seis anos de idade4. Os efeitos adversos mais frequentemente observados em doentes tratados com corticoides são atraso de crescimento, fragilidade óssea, alterações de humor e aumento de peso. Num estudo recente, no qual crianças com DMD entre os seis e os dois anos e meio de idade foram tratadas intermitentemente com corticoides, foi observado um abrandamento da evolução da doença, com relativamente poucos efeitos adversos5. Atualmente, não há indicação para tratar crianças com DMD com menos de quatro anos de idade com corticoides, mas isso possivelmente será reavaliado quando corticoides com menos efeitos adversos estiverem disponíveis6,7.

QUE TIPO DE CORTICOIDES E QUE DOSE SE RECOMENDA NA DMD?

D. Natera de Benito

Embora tenham sido utilizados vários regimes de tratamento, o deflazacorte 0,9 mg/kg/dia, numa dose única diária, é atualmente aquele que é mais recomendado8. Em alternativa, os doentes podem ser tratados com 0,75 mg/kg/dia de prednisona2,9. Embora ainda não tenha sido aprovada pelas agências de medicamentos, os resultados iniciais dos ensaios clínicos da vamorolona sugerem que pode ser uma alternativa terapêutica eficaz e, talvez, com menos efeitos adversos6,7. Até alguns anos atrás, ainda eram utilizados regimes de tratamento intermitentes à base de corticoides que consistiam em administrar o medicamento em semanas alternadas ou em dias alternados. Atualmente, as orientações clínicas não recomendam o uso destes regimes de tratamento4. No topo desta página, um esquema adaptado de McDonald, et al. com um resumo das recomendações de início e manutenção da corticoterapia em doentes com DMD (Fig. 1)2.

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QUAL É O PROTOCOLO DE ACOMPANHAMENTO EM DOENTES COM DMD TRATADOS COM CORTICOIDES?

L. Carrera García

O uso crónico de corticoides em doentes com DMD demonstrou ter efeitos benéficos na função muscular e motora, mas não está isento de efeitos adversos3,4,10. Um bom protocolo de acompanhamento é essencial para a sua deteção precoce. Antes de iniciar o tratamento crónico com corticoides, é recomendável completar a vacinação do sarampo-parotide-rubéola e contra a varicela. Os efeitos adversos relacionados com o uso de corticosteroides incluem os seguintes:

BIBLIOGRAFIA

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